21 julho 2007

(24.07.2004) A morte de Antônio foi anunciada em meu coração!

Antônio. Tenho saudade do que já foi. E se foi, não deve ser mais hoje. Nem amanhã. Antônio. Saudade da minha infância. Da sua presença em carne viva. Do seu pulso. Da minha pureza de criança. Da minha alegria incondicional. Da minha falta de problemas. Da minha falta de responsabilidades. Tudo isso é passado. Antônio. Antônio partiu. Antônio. Uma alma saudosista é uma alma doente. Minha cozinha é o melhor lugar da casa. Espaço feliz, onde as pessoas se reúnem e alimentam a sua fome. Antônio. Devorar a fome é um bom começo para ser feliz. Será que a cozinha seria diferente se os arquitetos conhecessem o mistério da alma humana? Acho que a cozinha devia estar no centro da casa. Antônio era o centro. É o lugar que alimenta. Antônio. Posso não comer na cozinha, mas é nela que a comida é preparada, é o início do alimento. Antônio era o início. É o antes de tudo. Antônio. É aqui na cozinha que relembro meus tempos de infância. Tempo quente. Tempo distante. Antônio. Comer é um ato misericordioso. Antônio. Uma alma saudosista é uma alma doente. Não posso esquecer disso. Antônio. Saudade daquele Antônio. Homem único. Antônio. Amor Eterno. Antônio. Que se foi. Ontem. Antônio. A saudade é a dor da ausência. Mas como sentir saudade de algo que não tenho mais? Contradição. Saudade existe. Antônio. Sofro na pele. Antônio. Dia após dia. Saudade que está no dia. Na noite. No sonho. Antônio é verdadeiro. Luz. Presente. Partiu sem um adeus. Por isso continua vivo. Antônio está vivo. Por isso estou longe de ser uma alma doente. Pureza. Leveza. Adeus. Saudade. Amor. Antônio.