21 julho 2007
Casa
Quando era uma menina ingênua, sem malícias, imaginava que minha casa ficava no alto. Fora do chão. Assim a idealizava como única. Imensa. Hoje sei que nada disso aconteceu. A casa não tinha alicerce. Era frágil. Desmagnetizada. Será que os psicólogos podem explicar esta ilusão de ótica? Será que todos os adultos podem perceber que estar velho significa perder a grandeza da imaginação? Não sei. Mais nada. Queria voltar a sentir aquele laço de criança. Mas voltar é impossível. Quem volta é aquele que é incapaz de aceitar o hoje. Passado. Distante. Longe. Nunca mais. Hoje penso que a casa está no chão. Terra firme. Pouco idealizada. Muito funcional. Cômodos centrais. Cozinha. União. Fundos. Quartos. Sala. Frente. Desejo de aceitação. Pinto parede. Textura. Trato o taco. Recheio o vazio. Espaço. Sentido. Magnética. Estética. Movimento. Realidade. Âncora. Felicidade. Sobre o futuro não sei de nada. Será que habitarei alguma casa? Será que a existência permitirá algum lar? Talvez. Nada posso confirmar. O que sei é que posso enxergar tudo vivo como sempre imaginei na minha mente de criança. Mesmo tudo diferente. Tudo continua vivo.