14 julho 2007

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Sou objeto de uma inquietação delirante. Obrigo-me a ser a obra da superficialidade. Treino a domesticação da minha inocência. Tudo para não cometer uma loucura. Sou louca demais para assumir isso. Em meio a tantas paredes e texturas sinto ar passando pelos buraquinhos. Ninguém poderá entender este romance. Estas palavras. Estas lamentações. Onde trágicos personagens tornam as cenas um conjunto de comédias emocionantes. É possível existir alegria num afeto. Tristeza num olhar. Minha boca ficou paralítica. O peso é inútil para um eu com necessidade de rastejar. Rastejo. E proclamo um desperdício. Só o amor pode sossegar tanta ignorância. Sabe quanto me custa o despertar? Não sou areia onde se constrói um castelinho imaginário. Tenho um par de asas grandes. Encosto meus ouvidos numa concha. Barulho. Está tudo bem barulhento aqui dentro. Eis que hoje sou um desmoronamento humano. Ruínas. Espio o vão da porta. Não é ninguém. Nem eu mesma. Estou só, perfeitamente só em minha tristeza. É um abismo de 50 metros. Queda livre. Em muitos campos de atividade, eis que surge o meu afogar. Afogo-me no vazio. Como posso? Sentir-me saciada neste imenso vazio. Será que posso enxergar um feiche de luz nesta zona de sombra? Posso nem sequer me enxergar nesta sombra. Posso nem sequer viver. Estou aqui fazendo conchinhas com minhas mãos para acender um minúsculo cigarro. Pensando na vida. Querendo fogo. Luz. Em meio a tantos instrumentos escuto o som do silêncio. E me sacio. Empalideço. É a sensação de morte. Fraqueza. Que fortalece. O meu essencial nem pode mais ser compartilhado. Cadê o texto do Antônio. Cadê? Hoje falar da sua morte é artificial. Perdi o tempo. Perdi o texto. Perdi o amor. Perdi a dor. Perdi você na linha do tempo. Nas mãos do absurdo. Num simples clique que não pode mais voltar. Adeus. Este é o meu verdadeiro adeus. Irreversível adeus. Mais que a morte. Que permanece viva em mim, latejando meus sentidos. Pulso meus músculos involuntariamente à vida. Cadê? Só a rosa branca mesmo pode me acalmar. Este lamento em hora imprópria. Hora de saudade. Sou transição. Um processo. Puro. Liberto-me a infância. Desapego meus medos. Porque agora é preciso coragem. Para viver é preciso de mais um pouco. Argamassa de areia. Castelo que desmorona a vida. O texto. A palavra agora está muda. A boca estática. A vida sem cor.