Sinto-me velha, pois com a idade consumo menos. Tudo menos. Inclusive corpos. Mãos. Bocas. Malícias. Desejos. Estou na fase da apreciação. Desconheço-me. Desconheço em mim o movimento. A forma sempre igual. Sou diferente. Correspondência inédita. Resto do dia. Café. Pedaços de cheiro. Tenho hoje uma afirmação individual. Única. Sou independente. Apenas amo. Não me consumo. Não consumo ninguém. Tenho a plenitude de um olhar. Que me basta. Que me afaga. Que me penetra. A penetração de alma. É a escolha da alma. A alma perfeita. Imaterial. Sabe o que penso quando vejo consumo alheio? Telefone? Mentiras? Maciez da sua voz que fala no silêncio para não ser percebida? Pena que você continua a mesma. Cometendo os mesmos deslizes. Aqueles (os mesmos) que nos assombraram lá no passado. Mas que hoje já não faz diferença. Porque a diferença sou eu. Se não percebe. Sem problemas. Somos livres. Espertas. Efêmeras. Idênticas.
A efemeridade é a que permanece. Engraçado. Será que nisso pelo menos somos a rotina? Talvez. Depende da alma. A alma breve. Leve. Não devo respostas. Nem preciso mais das perguntas. Porque eu mesma sou a resposta. Sozinha. Este exemplo de rebeldia de juventude é apenas sua insegurança. Ser impessoal. A melhor forma de ser superficial. Pequena. Minuciosa. Livreto. Seu amor de catálogo. É o amor mundano. Isso não posso dar a ninguém. Talvez o sujeito que ouve sua voz baixa e pouca no telefone pode catalogar amor. Sinto muito. Catálogos são frios. Mentirosos. Mascarados. Como o ouvido que escuta sua irreconhecível voz. Sua correspondência artificial está autorizada. Alô? Você vem? Ahhh. Que sorte a minha. Não! Pessoa dentro e fora de época. Sempre.