28 agosto 2007

Controle

Tenho medo de ser livre. Controlo a emoção. Controlo a palavra. Controlo o tempo. Remoto controle. Em contrapartida não gosto de controle. Quero beber as latas. Amenizar meu desejo de prisão. Liberdade. Quero o caminhar impossível. Tudo que o meu possível controle impede de existir. Quero o livre. Quero o campo. Quero o pranto. Desencanto. Tenho medo de ser livre. Controlo minha loucura. Controlo até mesmo minha sanidade. Controlo o controle. Controlo a saudade. Controlo a doçura. Controlo o amor. Remoto controle. Controlo o vício. Controlo a morte. Como forma de controlar a vida. Não gosto do controle. Abstrato. Engolir minha sede de álcool. Embriagada. Quero o despertar iluminado. Tudo o que o meu possível controle impede. Quero a queda. Quero o mar. Quero o sorriso. Floresço. Tenho medo de ser livre. Pego o controle. Click. Mudei o canal.

16 agosto 2007

O cair das folhas...

Canal arborizado. Que me motiva a pensar sobre o cair das folhas. Como um fragmentado objeto pode representar as mãos em cruz no peito. Esse é um movimento simples. O vento bate na folha e a folha balança e cai. Ato de fraqueza. O cair das folhas representa mudança. Precedida de morte. A morte reconciliadora. Encapa a alma. Alivia o sofrimento. Traz o cair. E o ensinamento do levantar. Por não respirar. Por não sorrir. Por não viver. Por se iludir. Por expor a repressão. E na sequência o cair. A folha caída é o fruto da repelência da árvore. Da indigestão. E incrivelmente perceber a queda. O andar das folhas. Sedutor movimento. Fragmentado. Objeto. Hoje é a veste que me cabe. Estampado. Com certo contorno de agonia. Dislexia. Ao perceber o existir me entrego. Nos corredores sem fim. Neste caminhar lento. Nesta busca constante. De leveza. Percebo o ser mais. E me envolvo neste musical venturoso. De sutileza. De amor. E calo o meu pranto. Com o cair das folhas. Brindando a seiva. Bebendo o orgânico. Transbordo.

13 agosto 2007

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Queria pedir para o tempo parar. Tempo, tempo, tempo, tempo. Para perder essa dimensão do tempo. Esta dimensão da distância. Tão sufocante. Tempo, tempo, tempo, tempo. Quantos anos se passam. E a dimensão do tempo continua grande. Tempo, tempo, tempo, tempo. Vou fazer um pedido ao tempo. Tempo, tempo, tempo, tempo. Quero a cara do meu filho. Tempo, tempo, tempo, tempo. Farei um acordo com o tempo. Tempo, tempo, tempo, tempo. Porque somos tão contínuos. Tempo, tempo, tempo, tempo. Peço ao tempo o prazer longo. Tempo, tempo, tempo, tempo. As maças do meu rosto queimadas. Tempo, tempo, tempo, tempo. Peço ao tempo movimento contigo. Tempo, tempo, tempo, tempo. O que se faz com o tempo. Nunca dá tempo. Tempo, tempo, tempo, tempo. Peço tempo para o ritmo. Tempo, tempo, tempo, tempo. Peço o que não poderá deixar o tempo. Tempo, tempo, tempo, tempo. A queima de um cigarro. Tempo, tempo, tempo, tempo. O pensamento fragmentado. Tempo, tempo, tempo, tempo. E meu tempo é meu estilo. Tempo, tempo, tempo, tempo. Cadê você, meu tempo? Cadê você, meu tempo? O tempo pára. Posso respirar esta saudade.

06 agosto 2007

Vai e vem

Estava aqui viajando num desses sites pornôs, só para passar o tempo. E me deparei com uma página informativa onde me obrigava a clicar "aceito" para entrar. Ao clicar "aceito" evidenciaria a minha maioridade. Que coisa sinistra. Ao clicar "aceito" passaria a acessar produtos sexuais. Como não gosto. Aqueles comuns e incomuns das mais cabeludas ramificações sexuais. Explico. Jamais. Sexo é sexo. Nem sempre amor. O milimétrico fechar dos olhos. Aquele precioso vai e vem. O decente suor. O insuportável calor. O indescritível beijo. A severa penetração. O navegar em águas. Ondas bravas. Águas que movem moinhos. Interessante ato. A água é uma memória. E então cliquei o X para fechar a página. Acabou a curiosidade sobre o produto. Entrei na essência. Tenho a pureza em existir. Como uma água forte de cachoeira. Frio na barriga. Não é água de beber. Pode até ser. É mais água de banhar. Vou rezar. Esta água prateada da noite. Pedreira. Água. Desliza. Ambientaliza o quadril. Potencializa a dor. Sangra. Limpa. Toca a boca da mata selvagem. Tem a chave de um mistério. Aquele vai e vem. Da água no mar. Dos quadris. Do tempo. Do gozo. Que descongestiona. Pulveriza. E abre. E molha. E seca. E repele. E atrai. O caminho. Forma naturalmente aquela onda que vai e vem. Vai em vem. Foi-se a viagem do prazer. Que não seja consumo. Posso banhar. Beber. Engolir. Penetrar. Conhecer a superfície. Aquela sua curva que tem saliência. O vibrar. O pulsar da água. Deve ocorrer isso no oceano. Naquela imensidão não tem produto. Nem contrato. O silêncio da água é barulhento. Gemidos. E o clímax atinge o ponto da correnteza do oceano. E puxa. E empurra. E vira. E sobe. E desce. E vai. E vem. E sobe. E desce. Carne do espírito. Que dança. E balança. E canta. Tudo sobre o linguajar das águas.

04 agosto 2007

Palco de Poetas

A vida é uma encenação. Óbvio que não em momentos como esse, onde os personagens vivem o prazer de brindar a vida. Somos a vida. Amigos. Encenadores. Tudo isso para sobreviver ao mundo dos dementes. Este pensamento não é minha criação, na pureza. Encaixou em mim. Quantos dias da minha vida posso não encenar e simplesmente viver? E brindar? Quantos dias posso ser eu mesma? Para quem posso ser? E qual é a força que me motiva ser? Eu. Passo. Fundo. Esqueço. Permaneço. Eu. Você. Passa. Superfície. Lembrança. Peça de teatro. Palco. Ser você mesma neste palco de poetas. Este foi um momento inesquecível onde a platéia não estava presente. Nem sequer o fotógrafo. Somos atores ensaiando a vida com uma dose de felicidade e confiança. Para poucos. Palco de prazer. Palco de chorar. Palco de sorrir. Palco de amar. Palco de sentir. Palco de estar. Sabe quando você não sabe como estar lá? E o por que estar lá? Mas está inteiramente. E verdadeiramente. É isso. Misteriosamente isso.

02 agosto 2007

Escutei um dia uma música que fala do limite do amor. Estar entre o adeus e a contrapartida. Estar a um fio do adeus. Poxa vida. A corda bamba. As pontas do laço se desgrudaram. Naturalmente. É a insistência do coração. "Se o amor é o corte e a cicatriz". É isso. Descobri. Vivi. Revivi. Criei. Recriei. E agora? As repetições continuam. Será que chegarei a algum lugar diferente? Às vezes, tenho que confessar, fico esperando, esperando, esperando a próxima vez. Igual. Por que? Será que viciei no mecanismo de desencaixe? Preciso buscar esta resposta. Às vezes, confesso mais esta franqueza, imagino quem será o próximo da sua fila. Mecanismo de desencaixar-encaixar-desencaixar-encaixar. E assim vai...
Este ensaio mental é apenas momentâneo. Não tem permanência. É um filete de pensamento. Destes repentinos. Extasiantes. Mortais. Pensamentos mortais. Isso é interessante. Me imaginar mortal é assustador. Assim como meus pensamentos. Assim como tudo que na vida é efêmero. Daí prefiro não definir, pois acredito que definir é limitar e o limitar é a morte. Mesmo que não agora, mas um dia será.
Já conversei sobre isso outras vezes, outras épocas, talvez em outras palavras. Mas com o mesmo significado de sentir. O amor verdadeiro só tem espaço para meu pensamento imortal. E aí mora o conflito. Pois, onde cabe o imortal? Onde cabe você em mim? Imortal. Plena. Verdadeira. É um paradoxo. Como posso aceitar naturalmente o imortal como mortal, já que a existência é assim? Prevendo absurdos. Vivendo fantasmas. Fatos e possibilidades que estimulam meu medo. O mesmo medo lá do passado que enfrentei fugindo...me escondendo...de mim mesma.

01 agosto 2007

Sem mais

Sinto-me velha, pois com a idade consumo menos. Tudo menos. Inclusive corpos. Mãos. Bocas. Malícias. Desejos. Estou na fase da apreciação. Desconheço-me. Desconheço em mim o movimento. A forma sempre igual. Sou diferente. Correspondência inédita. Resto do dia. Café. Pedaços de cheiro. Tenho hoje uma afirmação individual. Única. Sou independente. Apenas amo. Não me consumo. Não consumo ninguém. Tenho a plenitude de um olhar. Que me basta. Que me afaga. Que me penetra. A penetração de alma. É a escolha da alma. A alma perfeita. Imaterial. Sabe o que penso quando vejo consumo alheio? Telefone? Mentiras? Maciez da sua voz que fala no silêncio para não ser percebida? Pena que você continua a mesma. Cometendo os mesmos deslizes. Aqueles (os mesmos) que nos assombraram lá no passado. Mas que hoje já não faz diferença. Porque a diferença sou eu. Se não percebe. Sem problemas. Somos livres. Espertas. Efêmeras. Idênticas.
A efemeridade é a que permanece. Engraçado. Será que nisso pelo menos somos a rotina? Talvez. Depende da alma. A alma breve. Leve. Não devo respostas. Nem preciso mais das perguntas. Porque eu mesma sou a resposta. Sozinha. Este exemplo de rebeldia de juventude é apenas sua insegurança. Ser impessoal. A melhor forma de ser superficial. Pequena. Minuciosa. Livreto. Seu amor de catálogo. É o amor mundano. Isso não posso dar a ninguém. Talvez o sujeito que ouve sua voz baixa e pouca no telefone pode catalogar amor. Sinto muito. Catálogos são frios. Mentirosos. Mascarados. Como o ouvido que escuta sua irreconhecível voz. Sua correspondência artificial está autorizada. Alô? Você vem? Ahhh. Que sorte a minha. Não! Pessoa dentro e fora de época. Sempre.